terça-feira, 30 de abril de 2013

QUANDO EU CRESCER

– Quero ser astronauta e voar pelo espaço. E tu?

– Quero ser passarinho. É a maneira mais livre que conheço de sentir medo. Medo engrandece. Alimenta. Veja: estamos lá, sem os pés seguros no chão, distante daquilo que parece ser mais seguro, sólido, estamos no alto, podemos ir cada vez mais alto, nos afastando de tudo que possa nos deixar seguros, mas – mas voamos. E isso nos leva ao perigo e à liberdade, simultaneamente. Como se houvesse distinção entre os dois sentimentos. Como se eles mesmos fossem um só, por ocupar o mesmo espaço, ao vento. Ah, o vento. Quero ser passarinho para ter vento no rosto todo o tempo. É mentira que não queremos ser felizes sempre e que a tristeza faz parte – não faz. Gostaria do vento no rosto pela manhã, para despertar; à tarde, para refrescar; e à noite, para adormecer. Seguiria atravessando mares e rios, descobrindo vales e serrados, tentando enxergar onde termina horizonte infinito e começa a próxima busca pelo destino. Não teria casa. Não teria uma casa. Teria várias casas. Onde quer que pudesse pousar, repousar, ali seria um lar. Quero ser passarinho para ser livre.

Pedro Fonseca